... da totalidade das coisas e dos seres, do total das coisas e dos seres, do que é objeto de todo o discurso, da totalidade das coisas concretas ou abstratas, sem faltar nenhuma, de todos os atributos e qualidades, de todas as pessoas, de todo mundo, do que é importante, do que é essencial, do que realmente conta...

Em associação com Casa Pyndahýba Editora
Ano III Número 39 - Março 2012

Tradução - Eduardo Miranda


Gherashim Luca (23 de julho, 1913 - 9 de fevereiro de 1994) foi um teórico surrealista e poeta romeno. Ele é freqüentemente citado nas obras de Gilles Deleuze e Félix Guattari. Nascido em Bucareste, filho de um alfaiate judeu, falava iídiche, romeno, alemão e francês. Durante o ano de 1938 viajou com freqüência para Paris, onde foi introduzido nos círculos surrealistas. Durante o curto período da Romênia pré-comunista, ele fundou um grupo de artistas surrealista, juntamente com Gellu Naum, Paun Paulo, Teodorescu Virgílio e Trost Dolfi. A Segunda Guerra Mundial e o anti-semitismo romeno forçaram-no ao exílio. Luca inicialmente escreveu suas obras em romeno, mas depois passou a escrever em francês. Trabalhou entre outros com Jean Arp, Paul Celan, Di Dio François e Max Ernst, produzindo colagens, desenhos, objetos e texto-instalações. A partir de 1967, suas sessões de leitura o levaram a lugares como Estocolmo, Oslo, Genebra, Nova York e São Francisco. Em 1988 ficou famoso devido a um programa de TV apresentado por por Raoul Sanglas, "Comment s'en sortir sans sortir", alcançando um maior número de leitores. Em 1994, ele foi oficialmente despejado de seu apartamento por "motivos de higiene." Luca vivia ilegalmente na França há quarenta anos, e não conseguiu lidar com a situação. Em 9 de fevereiro, aos 80 anos, ele cometeu suicídio pulando no Sena.

Ghérasim Luca - Cubomanie d'après le Printemps de Botticelli, 1944

Dedos? - Gherashim Luca

Deixe-me lhes contar sobre
a mulher sem dedos:
Uma noite ela veio,
entre as cortinas da janela,
para o banho noturno.
Eu estava nu com meus dedos
e ela era a mulher cega e sem dedos
nas mãos.
Me senti abandonado e assustado,
ela me disse para sentir seu seio sob minha mão;
ao tocar seu mamilo, branco e comprido como um dedo,
roubei seu coração
e ela sumiu, assim como veio.
Meus amigos do quarto ao lado,
Meus amigos e vizinhos do quarto ao lado,
todos tinham apenas um dedo.

O Edifício dos Sem Dedos, é como nosso prédio é conhecido.

Essa é a história da mulher sem dedos.

Degete?

Lasă-mă să-ţi spun acum
despre femeia fără degete:
A venit într-o seară,
pe când lipeam cearşaful de ferestre,
ca să fac baia de seară.
Eram gol până-n deget
şi ea era femeia oarbă şi fără niciun deget
în deget.
Când ma pipăit gol, sa speriat
şi mi-a spus să-i pun mâna pe sân să-mi confirme;
când mi-am agăţat degetul de sfârcul ei alb
mi la furat în ventricul
şi a dispărut cum a venit.
Şi la prietenul meu din camera vecină,
şi la vecinul prietenului meu din camera vecină,
tot câte un deget.
Clădirea fără deget este porecla clădirii noastre.

Aceasta-i povestea femeii care n-avea niciun deget.

No comments:

Post a Comment